segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Dica é pagar dívida e recorrer à Justiça


Maria Cecília Cardoso, 48 anos, sentiu na pele o peso da solidariedade e, principalmente, da confiança. Ela permitiu que o marido, cujo nome prefere manter em sigilo, fizesse compras em seus cartões de crédito. “No primeiro mês, ele pagou apenas os valores mínimos. No segundo, disse que deixaria para quitar todas as dívidas no mês seguinte. No terceiro, admitiu que não tinha condições de pagar mais nada. Foi um baque para mim”, conta. A dívida acumulada já passava de R$ 1 mil. Como ela não tinha condições de quitá-la, acabou com o nome sujo. “Perdi todos os meus cartões e fiquei sem nenhum crédito na praça. Minha vida virou um inferno. Demorei um ano para limpar meu nome, depois de renegociar tudo”, relembra.
Para a assessora executiva do Procon, Vera Remedi, os casos de inadimplência provocados por relações familiares e de amizade estão se tornando um problema crônico, por causa, principalmente, da desinformação. Que o diga a massagista Adriana Ferreira, 39 anos. Solícita, em 2008, ela ajudou uma vizinha, que considerava sua amiga, a financiar, em seu nome, um carro e um apartamento, totalizando R$ 187 mil. Nenhuma das dívidas foi paga e seu nome, incluído na lista do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). O que mais indigna Adriana é que ela pagou tudo, mesmo com atraso, mas a ex-amiga continua a usufruir, sem constrangimento, do carro e do apartamento.

“O jeito foi recorrer à Justiça para retomar o que é meu”, afirma a massagista. “Paguei um preço altíssimo por acreditar na amizade. Várias vezes, sentia vontade de comprar alguma coisa a prazo, mas logo lembrava que não podia, por culpa de outra pessoa. A prioridade era pagar as dívidas dela”, diz. Agora, com as faturas liquidadas, Adriana conta com a força do Judiciário para voltar a ter crédito. “Quero o que é meu”, frisa. E, garante: “Nunca mais serei camarada com ninguém quando o que estiver em jogo for dinheiro”.

Restrições
No entender de educadores financeiros, todos esses problemas poderiam ter sido evitado se os consumidores tivessem o hábito de tomar alguns cuidados. “É preciso saber lidar com o dinheiro, uma mercadoria escassa, mas fundamental para as famílias. Ele deve ser tratado com a seriedade que merece”, aconselha Fernando Cosenza, diretor da Boa Vista Serviços. Para ele, é preciso que as pessoas façam as contas e pensem muito antes de fazer um financiamento, emprestar o cartão de crédito ou qualquer valor a terceiros. “Nunca devemos nos comprometer com uma dívida que não é nossa, uma quantia que, se o outro não pagar, nos veremos em dificuldade para quitar. Muitas vezes, é preciso até se desfazer de algum bem para limpar o nome”, frisa.

O Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relações de Consumo (Ibedec), ressalta que, depois de se comprometerem com terceiros, as pessoas até tentam se livrar do problema, mas já é tarde. “Não há o que fazer. O responsável pelo empréstimo não pago vai sofrer restrições. E isso vale para a fiança, inclusive a que é dada ao Programa de Financiamento Estudantil (Fies)”, explica.

Para os que caíram em armadilhas provocadas por familiares e amigos, a dica é, depois de quitar as dívidas, recorrer à Justiça. Para isso, é preciso ter documentos que provem a situação. Valem, inclusive, arquivos como e-mails. O melhor, contudo, é ter um pequeno contrato ou uma nota promissória, cédula que é vendida em qualquer papelaria. Mas atenção: antes de acionar o devedor judicialmente, o prejudicado deve pagar todos os débitos. Mesmo assim, o recebimento não é certo. Se o devedor não tiver bens para ser executados nem recursos disponíveis, quem emprestou o dinheiro pode até ganhar a causa, mas não vai conseguir receber.

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